domingo, abril 24, 2016

A perturbadora ascensão do determinismo neurogenético

Boa noite.

Hoje vamos discutir sobre um texto chamado:  “A perturbadora ascensão do determinismo neurogenético”, Steven Rose.


Um ramo da ciência que tem feito grandes descobertas e ganhado cada vez mais relevância nas últimas décadas é a genética. Ideias antes possíveis apenas em histórias de ficção científica, como a clonagem, ganharam visibilidade com as pesquisas desenvolvidas nessa área, como é o caso da ovelha Dolly. No entanto, com o crescente êxito da genética surgiu a ideia de que todas as nossas características físicas e psicológicas são produtos dos nossos genes. É o que chamamos de determinismo neurogenético.
Essa visão reducionista enxerga tudo como sendo uma consequência da informação descrita no material genético. Comportamentos violentos, alcoolismo, temperamento, orientação sexual, características físicas e psicológicas como um todo são o resultado dos genes. Nessa visão, a influência do meio social é deixada de lado. Sabemos que os genes possuem uma grande influência na determinação de características físicas e uma certa influência em aspectos psicológicas, especialmente nos primeiros anos de vida. Entretanto, todas essas influências interagem com o meio em que nascemos e vivemos. Se nossos genes determinassem tudo o que somos, então gêmeos univitelinos (com o DNA idêntico), seriam exatamente iguais, física e psicologicamente. Entretanto, é comum encontrarmos gêmeos com personalidades completamente diferentes, muitas vezes chegando a ser até mesmo antagônicas. Uma boa análise científica do homem leva em consideração tanto aspectos objetivos como subjetivos.
Esse texto se mostra muito interessante, por criticar o determinismo neurogenético, reconhecendo a importância de estudos ligados à genética, mas expondo o quanto esses estudos poderiam ser melhor empregados caso fossem levados em conta, além dos fatores biológicos, os fatores sociais. O determinismo neurogenético não analisa a variedade existente entre um indivíduo e outro e considera que as pessoas cometem atos de violência, de desonestidade ou possuem algum tipo de distúrbio psicológico em razão de possuírem um gene para isso. Essa é uma perspectiva muito limitada e simplificadora, que não se mostra condizente com os inúmeros estudos já realizados acerca da influência do meio social sobre os indivíduos e do quanto esse meio, combinado ou não com a genética dos mesmos. pode vir a gerar determinados comportamentos nas pessoas.

Outra visão não condizente com esses estudos e adotada pelo determinismo é a de analisar o cérebro de forma separada do indivíduo, como se ambos não estivessem intimamente ligados e o primeiro não fizesse parte do segundo. Dessa forma, considera-se que o cérebro seria o detentor do comportamento perturbador ou do distúrbio psicológico, quando, na realidade, o indivíduo, como um todo, apresenta esse comportamento ou esse distúrbio psicológico. Não é possível, portanto, separar o cérebro do indivíduo, ambos fazem parte de um todo que apresenta determinado comportamento.

Acredito que há algumas falhas em toda essa ideologia, por exemplo: Quando um alcoólatra para de beber o que aconteceu com o seu "gene do alcoolismo"? Houve alguma mutação? Deixou de existir? Vários fatores influenciam a mudança de comportamento de uma pessoa, e não só o genético. Outro exemplo citado no texto fala sobre os gays. Um gay só seria gay porque tem um gene que o torna propenso a isso. Conheço gays que deixaram de ser gays e viraram heterossexuais e um hétero, pai de família, que se tornou homossexual. Então como essa teoria explicaria isso? Não vejo nenhuma resposta simples.  

    Não duvido que os genes tenham seu papel na constituição do nosso caráter, de nosso comportamento e de vários outros áreas que fazem parte do ser humano. Mas também não acredito que seja apenas o fator genético que vai influenciar nossas ações e maneira de ser. Existe uma gama maior de fatores que inter-relacionados determinam nossos comportamentos e personalidade. Fatores sociais, culturais e históricos também tem sua importância e penso que influenciam mais do que o genético.

Dessa forma, segundo meu ponto de vista, o fato de uma pessoa ser violenta, gay ou alcoólatra não é estritamente ligado aos genes que possui. Mas, mais que isso, tem uma relação forte com o modo que a sociedade é constituída.



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